MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Onças, tamanduás, baleias, peixes-bois e seres humanos acabam de ganhar uma raiz na sua árvore genealógica, um animal que é o mais primitivo de todos os mamíferos cujos fetos são nutridos por uma placenta.
O novo fóssil é o Juramaia sinensis, descoberto na China. Como "mãe" de todos os mamíferos placentários, ele está na origem da grande maioria dos parentes modernos do homem, com exceção de marsupiais (como cangurus) e monotremados (bichos como o ornitorrinco).
"Jura" vem de Jurássico, "maia" significa mãe e "sinensis" é "chinês" em latim. O achado foi publicado na edição desta semana da revista "Nature".
Duas análises morfológicas independentes determinaram que se trata do fóssil mais antigo de mamífero placentário já encontrado.
Mark Klingler/Museu Carnegie de História Natural
Ilustração do esqueleto e da morfologia do "Juramaia sinensis", que viveu no planeta há 160 milhões de anos
A datação determinou que ele viveu há 160 milhões de anos, no terço final do período Jurássico --uns cem milhões de anos antes da grande extinção dos dinossauros.
A idade é 35 milhões de anos mais antiga do que o Eomaia, anterior recordista (em velhice) desse grupo. A diferença é mais de dez vezes maior do que toda a existência do nosso gênero, o Homo.
Como esse novo fóssil é sem dúvida um placentário, segundo sua dentição típica, a descoberta joga a separação entre nós com placenta e os marsupiais para antes dos 160 milhões de anos.
"Essa descoberta é importante por diminuir o hiato temporal que existia entre a datação geológica do fóssil e a genética para essa separação entre marsupiais e placentários", diz Lilian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeriro). Agora as estimativas ficaram de acordo.
Como hoje marsupiais e mamíferos correspondem a 99,9% dos mamíferos do planeta, esse novo teto para a separação é critica para calibrar suas taxas de evolução.
DE DENTES E DEDOS
Medindo 7 cm e pesando de 15 g a 17 g, o Juramaia sinensis apresenta uma posição de fossilização rara.
"Ele está bem preservado numa placa plana de xisto, com os dentes bem expostos", disse à Folha o primeiro autor do estudo, Zhe-Xi Luo, do Museu Carnegie de História Natural, em Pittsburgh (EUA) "Isso facilitou a identificação. Foi uma surpresa boa."
A dentição indica alimentação baseada em insetos, e as patas mostram hábitos arbóreos, com capacidade para escalar troncos de árvores.
Dado que os fósseis anteriores à separação entre os ancestrais dos cangurus e os nossos indicam hábitos mais terrestres, essa nova forma de dedos marca uma diversificação de estilo de vida importante, que possibilitou ao nosso ancestral placentário explorar um novo nicho.
"O Eomaia, que era o recordista anterior do placentário mais antigo, também foi um 'alpinista'. Juntos, eles reforçam a interpretação de que os primeiros grupos de placentários do Jurássico se beneficiaram das adaptações para escalar", aponta Luo.
http://www1.folha.uol.com.br
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