Para Nicholas D. Kristof, surto de E.coli na Europa emite alerta sobre os perigos do uso excessivo de antibióticos no meio rural
por Globo Rural On-line
Editora Globo
Nos EUA, 80% dos antibióticos vão para a criação de gado, não para humanos
A morte de mais de 30 pessoas na Europa, contaminadas por uma variante da bactéria E.coli – provavelmente originada em brotos de vegetais na Alemanha – trouxe novamente à tona a discussão sobre a segurança alimentar no mundo. “Não deveríamos estar surpresos. A comida nos trai”, afirma Nicholas D. Kristof em sua coluna no jornal The New York Times, publicada no final de semana.
Segundo o artigo de Kristof, cerca de 325 mil pessoas são hospitalizadas todos os anos nos Estados Unidos por conta de doenças relacionadas aos alimentos. E cinco mil delas acabam morrendo. “A comida mata uma pessoa a cada duas horas”, constata o jornalista. “Nós temos uma indústria que produz alimentos baratos, mas lobistas bloqueiam iniciativas de torná-los mais seguros”, afirma.
Um dos grandes problemas apontados por Kristof é o elevado nível de antibióticos utilizados na pecuária. De acordo com o Food and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano que regulamenta medicamentos e alimentos, 80% dos antibióticos nos Estados Unidos vão para a criação de gado, não para humanos. “Apenas o estado da Carolina do Norte usa mais antibióticos em animais do que consome a população inteira dos Estados Unidos”, diz o texto.
Como o uso excessivo desses medicamentos precipita a resistência de bactérias, seria necessário redobrar a atenção. “As estatísticas indicam que essa indústria utiliza de forma errada os antibióticos, com o objetivo de amparar as condições sanitárias ruins da criação de animais”, opina a microbiologista (e deputada) Louise Slaughter. “Ao oferecer antibióticos aos animais para mantê-los saudáveis, ela está deixando nossas famílias doentes, espalhando essas cepas mortais de bactérias”, completa Louise.
Kristof defende a ampliação das inspeções no sistema alimentar, testes adicionais para detectar bactérias como a E.coli e o foco na disseminação de hábitos de higiene, como lavar as mãos antes de lidar com carnes cruas. “Mas banir o uso de antibióticos no gado para mantê-lo saudável pode ser um bom começo”, completa.
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