A estrutura do “pênis” da fêmea do inseto Neotrogla
Em algum momento na história do pato-de-rabo-alçado-americano, uma espécie que vive na América do Norte e nos Andes, as fêmeas decidiram que bicos azuis eram sexys. A evolução fez o resto do trabalho e favoreceu este “recurso extravagante” da espécie. Mas a evolução muito cuidadosamente selecionou outro traço masculino extravagante: um pênis longo e em forma de saca-rolhas.
Em seu novo livro, “Nature’s Nether Regions” (“As partes baixas da natureza”, em tradução livre), o cientista holandês Menno Schilthuizen lança um olhar abrangente em todo o reino animal – de patos até caramujos hermafroditas que fazem sexo todos os dias até os tubarões, que usam um de seus pênis, ou “cláspers” (eles têm dois), para tirar o esperma rival para fora da vagina da fêmea – para ilustrar uma incrível diversidade de genitálias animais que têm sido amplamente negligenciadas, mesmo entre os cientistas.
Um começo lento
“Eu acho que um monte de biólogos evolucionistas e pessoas que trabalham na seleção sexual não estavam plenamente conscientes da diversidade genital que existe”, acredita Schilthuizen. O estudo da evolução das partes sexuais só decolou nos últimos 25 a 30 anos. “A informação estava ali, mas estava contida dentro do campo da taxonomia (ciência que define os grupos de organismos biológicos), onde foi utilizada extensivamente para a identificação e circunscrição das espécies”.
Muitas espécies de abelha, por exemplo, são muito parecidas, e a única maneira que taxonomistas tinham para distingui-las era capturar um macho e examinar seu pênis, explica Schilthuizen em seu livro. Mas levou décadas para os cientistas perceberem que partes sexuais específicas das espécies eram algo mais complexo.
Voltemos ao pato-de-rabo-alçado: enquanto a maioria das aves não tem pênis de qualquer natureza, patos têm, e esses prodigiosos membros desdobram-se explosivamente quando é hora de acasalar. Só recentemente os cientistas descobriram que algumas patas têm vaginas em forma de saca-rolhas, com longas espirais na direção oposta do membro do macho. Isso permite que a fêmea lute contra machos indesejáveis e notoriamente agressivos, uma vez que o pênis do pato não se encaixa tão facilmente. Desta forma, a evolução dos órgãos genitais dos patos parece menos com o subproduto de fêmeas exigentes, e mais como a consequência de uma corrida armamentista sexual, onde as peças masculinas e femininas evoluíram em resposta ao equipamento constantemente em evolução do outro.
Charles Darwin pode ter alguma parte da culpa por essa visão limitada. Em todas as suas contribuições para o estudo da evolução, o foco de Darwin em características secundárias desconectadas dos órgãos sexuais pode ter limitado como os biólogos começaram a investigar a seleção sexual.
“Porque Darwin abriu o caminho com penas coloridas, em vez de órgãos genitais, as pessoas que trabalham na seleção sexual começaram imediatamente a trabalhar na plumagem de aves e características externas de seleção sexual pré-copulatória”, esclarece Schilthuizen. E a seleção sexual das cores brilhantes e partes baixas bizarras não são apenas casos especiais de seleção natural.
“É como perseguir um alvo em movimento”, compara o autor. “Não é um tipo de evolução que tem um ideal ou um ponto final, como a adaptação ao ambiente muitas vezes tem. O ambiente é geralmente muito mais estático do que algo como a outra metade da espécie que está coevoluindo em resposta. Isso é, por definição, um tipo muito dinâmico de evolução”.
Pênis femininos, vaginas masculinas
Ao falar sobre os órgãos genitais, os cientistas arriscam-se a ficar presos em um “atoleiro semântico”, como o chama Schilthuizen em seu livro. Isso talvez tenha ficado claro em abril, quando um grupo de pesquisadores anunciou a descoberta de quatro novas espécies de insetos em que as fêmeas têm um pênis – ou, tecnicamente, um órgão chamado de “gynosome”, que age como um pênis – e o órgão masculino mais se assemelha a uma vagina com um pacote valioso de esperma.
“É uma boa maneira de ilustrar que os papéis sexuais não dizem respeito ao cromossomo sexual que você tem ou que tipo de células sexuais você produz, mas é realmente sobre o quanto você investe na prole, e isso é o que impulsiona não apenas a intensidade, mas também a direção da seleção sexual”, explica Schilthuizen.
Em relação aos insetos com os papéis invertidos do gênero Neotrogla, os pacotes de esperma dos machos, ou espermatóforos, oferecem nutrientes raros para a produção de óvulos e a própria alimentação da prole.
“O macho tornou-se o sexo que investe a maior parte dos nutrientes na descendência, de modo que ele se tornou o sexo exigente, e as fêmeas competem pelo acesso aos machos com seus grandes espermatóforos de nutrientes”, explica Schilthuizen. “Isso colocou em movimento a evolução de um órgão intermitente nas fêmeas para forçar ou persuadir o macho a liberar os espermatóforos”.
O viés humano
Talvez a nossa tendência de antropomorfizar mesmo minúsculos insetos faça com que o sexo do Neotrogla pareça bizarro. Mas se o viés humano distorce a forma como olhamos para os animais, também distorce a forma como vemos a nós mesmos.
Ainda recentemente, na década 1960, muitas pessoas – até mesmo biólogos – mantiveram a noção bastante romântica que o orgasmo feminino era algo exclusivamente humano e, talvez, funcionava como uma maneira de promover a ligação entre os casais. Mas, para muitos animais, o namoro vai além de ostentar um casaco de penas chamativas. A maioria dos mamíferos do sexo feminino têm um clitóris, e provavelmente experiencia orgasmos durante o sexo, embora o órgão possa assumir uma forma totalmente diferente da variedade humana. Hienas malhadas fêmeas, por exemplo, dão à luz através de seus clitóris de 18 centímetros de comprimento, que mais parecem um pseudopênis.
Então, o que separa os humanos do resto dos animais? Os machos humanos não têm espinhos em seus pênis como os chimpanzés (parentes vivos mais próximos dos seres humanos) e outros grandes primatas, e as fêmeas não experimentam inchaço visível da vagina quando estão férteis e prontas para acasalar. Mas pode-se reverter o argumento e encontrar recursos a respeito de qualquer animal que os tornam especial.
“Quando tudo é bizarro, então nada é bizarro. Nós temos uma tendência de continuar a usar o que é familiar como se fosse a norma, e temos de perceber que muitos poucos animais, por causa dessa diversidade, podem ser diretamente comparados aos seres humanos ou a outros animais com os quais nós estamos familiarizados. E em um certo ponto, eu não diria que você se torna blasé, mas você se torna ciente de que esta imprevisibilidade é mais característica da evolução sexual do que qualquer outra coisa. Quando você percebe isso, você deixa de ser surpreendido”, simplifica Schilthuizen.
Ao mesmo tempo, com mais conhecimento sobre a multiplicidade de arranjos íntimos no mundo animal, as criaturas mais banais parecem mais fascinantes.
“Mesmo os esquilos que você vê num parque. Uma vez que você sabe que eles têm plugues de esperma e pênis assimétricos e coisas assim, você olha para eles de uma forma muito diferente”, aponta o cientista. [LiveScience]
fonte:http://hypescience.com/orgaos-genitais-bizarros-em-animais-sao-mais-comuns-do-que-voce-imagina
por: Jéssica Maes
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