quarta-feira, 30 de dezembro de 2009, 04:37
Técnica que estressa as aves pode ser substituída por administração menor de ração, com o mesmo efeito sobre a produção
Fernanda Yoneya - O Estado de S.Paulo
De olho no bem-estar animal, pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu (SP) desenvolveram um método alternativo ao jejum imposto às galinhas poedeiras. A prática é adotada, segundo a zootecnista Andréa de Britto Molino, para promover a "muda" forçada das penas em aves de produção e prolongar a sua vida útil. Embora o jejum propicie um "descanso" ao aparelho reprodutor e, com isso, melhore a produção, questiona-se o alto grau de estresse a que a galinha é submetida.
À medida que a idade da ave avança, a produção de ovos diminui. As poedeiras atingem o pico de postura com aproximadamente 26 semanas, com 98% de produção por dia. Quando a ave atinge 70 semanas esta produção já é menor que 70% por dia. "Para evitar gastos com o descarte do lote e aquisição de aves em início de produção, adota-se a muda forçada, fazendo a ave perder até 30% de seu peso corporal. Após descanso no aparelho reprodutivo e sua regeneração, a ave retoma a produção."
QUEDA DE PENAS
Segundo Andréa, a muda ou renovação de penas em aves domésticas ocorre após um longo período de produção e demora cerca de quatro meses para ser concluída, período em que as aves ficam sem botar. "Para acelerar esse processo adota-se o jejum, que induz à queda de penas, com posterior crescimento das plumas novas e rápido reinício da postura." O jejum no aviário dura 14 dias no máximo e, para o avicultor, representa custo baixo e alta eficiência.
A proposta é substituir o jejum pela restrição alimentar. "Verificamos que a restrição é técnica eficiente, que une todos os quesitos da muda ideal: melhora no desempenho e na qualidade dos ovos em relação ao período anterior à muda e menor estresse", garante Andréa, que defenderá a dissertação de mestrado no mês que vem, sob orientação do professor Edivaldo Antônio Garcia.
TESTE
Andréa testou cinco tipos de dietas: com 0, 15, 30, 45 e 60 gramas de ração por dia, com ou sem adição de partículas grossas de calcário, em 420 galinhas, de 70 semanas de idade. "Testamos o uso do calcário durante a muda porque a qualidade da casca dos ovos é ruim nesse período." Os resultados mostraram que o desempenho das aves alimentadas com 15 gramas de ração por dia foi semelhante ao daquelas submetidas ao jejum. Também constatou-se que os ovos das aves que seguiram a dieta de 15 gramas/dia com adição de calcário tinham casca mais resistente.
No Brasil o jejum é utilizado em mais de 22 milhões de galinhas/ano e, nos Estados Unidos, em 90% dos lotes de poedeiras. "Uma das maiores vantagens do nosso estudo é a facilidade de aplicação do método, já que trabalhamos com a mesma ração que as aves estavam consumindo antes da muda forçada, o que evita a necessidade de nova formulação de ração para a fase de muda." O método alternativo é uma boa notícia para avicultores que pretendem se ajustar às novas regras de bem-estar animal exigidas pela União Europeia, a partir de 2012. "Nos EUA e na UE é crescente a pressão para banir esse método", diz Andréa. Segundo ela, ainda não há como comprovar a substituição do jejum avaliando apenas o produto final, neste caso, os ovos. "A verificação só pode ser feita por meio de inspeções nas granjas, por um técnico da empresa importadora."
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