publicado em 14/04/2010 às 16h33:
Objetivo é usar técnica para ajudar outras espécies a sobreviver
AFPFoto por Wikimedia
Cientistas australianos anunciaram, nesta quarta-feira (14), ter ensinado os gatos-marsupiais a evitar a ingestão dos venenosos sapos-cururus, uma medida que deverá ajudar outras espécies ameaçadas de extinção a sobreviver.Gatos-marsupiais aprenderam a evitar os sapos-cururus; ideia é usar técnica com iguanas e lagartos de língua azul, que comem esse tipo de anfíbio
Os marsupiais são uma subclasse dos mamíferos em que a fêmea possui uma bolsa no abdômen - o gato-marsupial, o gambá e o diabo-da-tasmânia são alguns dos mais conhecidos. Ecologistas da Universidade de Sidney conseguiram treinar o gato-marsupial (Dasyurus hallucatus) a eliminar seus instintos e a se recusar a comer os anfíbios invasores, que viraram praga em várias partes da Austrália.
A ingestão dessa espécie de sapo é fatal para os marsupiais. Mas os cientistas fizeram com que eles deixassem de se alimentar desses animais na natureza, oferecendo, em troca, sapos pequenos salpicados com um produto químico enjoativo.
A Austrália sofre com a praga de milhões de sapos-cururus, dotados de uma bolsa de veneno em suas cabeças, tóxica o suficiente para matar cobras e crocodilos. Os sapos foram introduzidos nos anos 1930 para controlar a população de besouros, explicou o cientista Jonathan Webb.
- Pensei que, se nós pudéssemos ensinar os gatos-marsupiais a associar o mal-estar aos sapos-cururus, poderíamos encontrar um jeito de preservá-los. Os resultados, publicados no Jornal de Ecologia Aplicada da Sociedade Ecológica Britânica, demonstraram que os gatos-marsupiais jovens submetidos ao "tratamento" de aversão pelo paladar tendiam mais a associar o sapo-cururu a uma sensação desagradável e, assim, evitá-lo.
Os animais foram marcados antes de serem soltos na natureza, e os pesquisadores descobriram que os gatos-marsupiais condicionados sobreviveram até cinco vezes mais que os outros, contou Webb.
- Se você consegue ensinar ao predador que os sapos-cururus o fazem ficar doente, então o predador os deixará em paz em seguida. O resultado disso é que animais, como os gatos-marsupiais, podem sobreviver na natureza mesmo em uma área infestada por estes anfíbios.
O gato-marsupial enfrenta a ameaça de extinção em muitas partes do país, enquanto os sapos-cururus se espalham em alguns de seus poucos habitats restantes.
Segundo os cientistas, o próximo desafio será aumentar a escala de seu trabalho em populações selvagens de outras espécies que se alimentam do sapo-cururu, como as iguanas e os lagartos de língua azul. Para isso, os cientistas terão de conferir se a aversão que criaram aos sapos-cururus é duradoura.
Se a estratégia funcionar, o próximo passo será "refinar nossos métodos de entrega; talvez agências de proteção da vida selvagem pudessem distribuir por via aérea 'iscas anfíbias' antes da invasão de sapos-cururus para educar os marsupiais a evitar atacá-los", acrescentou o cientista.
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